quinta-feira, 25 de maio de 2006

Um novo logótipo para o município de Lamego



Como todos sabemos, o logótipo representativo do concelho de Lamego foi, até há bem pouco tempo, o do nosso castelo.
E havia, em boa verdade, razões verdadeiramente poderosas para assim continuar. O castelo de Lamego é um símbolo expressivo de uma súmula de características que identificam a nossa cidade e o nosso concelho, desde logo no que se refere à sua vetusta idade e à sua insubstituível representatividade no plano histórico da fundação da nacionalidade.
Podemos afirmar que poucos elementos existirão, na cidade de Lamego, capazes de sintetizar o seu valor e importância, no que de mais relevante esta cidade possuiu no inestimável contributo que deu para a construção do território nacional, para a fundação da nacionalidade portuguesa, bem como para a afirmação e triunfo do cristianismo, em oposição ao Islão.
Ou seja, o castelo de Lamego é o mais genuíno símbolo que possuímos para representar Lamego nas suas mais diversas componentes constitutivas – histórica, politica, administrativa, militar e religiosa – numa unidade que dificilmente se pode encontrar em qualquer outro monumento da nossa cidade.
O castelo, elemento central do nosso brasão, representa mil anos de história, e de existência, desta cidade plena de pergaminhos. E se bem que a nossa história possa ir muito para lá dessa marca temporal, não vislumbramos melhor símbolo que este para mostrar a nossa rica diversidade de elementos e a nossa incontornável identidade cultural que é apanágio de Lamego e dos lamecenses.
Dito isto, quero dizer que nada me move, em termos de preconceito, contra as mudanças, e muito menos contra esta mudança de logótipo. O Santuário de Nossa Senhora dos Remédios é, de facto, um magnífico exemplar do barroco nacional, da segunda metade do séc. XVIII, expressão maior da religiosidade das nossas gentes e, seguramente, um dos monumentos que possuímos mais belos e mais representativos da nossa cidade.
Mas isto, em modesto entender, não faz do Santuário o melhor logótipo para o município lamecense. Desde logo porque reduz a amplitude simbólica que se pretende com a utilização de qualquer símbolo, ou seja, enaltece uma componente, a religiosa, mas omite todas as restantes componentes que deveriam existir no símbolo, de forma a caracterizar com justiça e propriedade a natureza diversa da nossa realidade.
Depois, porque mesmo sendo um excelente exemplar do barroco, como já se disse, projecta Lamego para um passado de pouco mais de duzentos anos, pouco condicente com a milenar existência do burgo lamecense.
Finalmente, e embora esta seja matéria de mera questão de gosto, relativa como todas as questões de gosto o são, o seu desenho é redutor, uma vez que distorce e avilta, precisamente, o que de mais bonito e brilhante o desenho do Santuário possui – os seus pormenores decorativos, aqui tratados com rudes e grosseiros traços, de fraca precisão no perfil esboçado, a tentar uma modernidade não conseguida, que nem sequer estou certo de ser desejável para o caso em apreço. Para não falar, evidentemente, da cor de fundo em que se plasma o desenho, que para além de ser má, em termos de opção estética, remete para uma associação de natureza politico partidária que deveria ser evitada num símbolo que deve ser representativo de todos e não apenas de alguns.
Parece, pois, existir uma fobia de mudança das coisas, apenas porque a ideia de mudança é, por si só, um bem desejável. Ora isto não é verdade – as mudanças só fazem sentido quando são, objectiva e criteriosamente, para melhor.
Esta história da mudança do nosso logótipo pode parecer de somenos importância para alguns, mas para muitos outros não o será – ela é bem ilustrativa do que pode fazer a ignorância, quando se atreve a fazer as coisas sem consultar a sabedoria, que a aconselharia certamente, a visitar a prudência…


Agostinho Ribeiro

quinta-feira, 18 de maio de 2006

Manifestações e outras considerações avulsas



Começo hoje a escrever neste jornal (Lamego Hoje), na tentativa de reflectir publicamente sobre alguns aspectos e problemas que nos preocupam, a Lamego e aos lamecenses, retomando uma prática que abandonei já há alguns anos, e que agora tentarei reparar.
De entre muitas razões que me levam a fazê-lo, relevo a constatação de que certas e determinadas afirmações, considerações públicas e mesmo, em alguns casos, ditos menos educados, virados contra a minha pessoa e contra as pessoas que protagonizaram, nas últimas eleições autárquicas, um projecto comum em que estive, e estou, envolvido, fazem-me assumir esta posição, na certeza de estar a contribuir para um esclarecimento público das posições que este grupo autárquico defende e que eu, evidentemente, também partilho pessoalmente.
É necessário dizer, sempre e sem descanso, a certos senhores que agora se querem fazer passar por exemplos de cidadania, que eles não serão os únicos a defenderem Lamego e os lamecenses, e que existem outras pessoas que deram, não apenas de ontem ou de há um ano a esta parte, mas desde sempre, provas de defenderem e trabalharem pelos interesses e bom nome de Lamego. E muitos deles nunca andaram à procura de tachos ou remunerações principescas, como parece ser o apanágio destes senhores que tão facilmente criticam os seus opositores mas que ainda nada de bom, em concreto, fizeram a favor desta terra.
Em primeiro lugar gostaria de expressar algumas questões de princípio, para que não restem dúvidas sobre o meu posicionamento em matérias de natureza política. Não é pelo facto de estarem sempre a “lembrar” o meu percurso político passado, que eu deixarei de dizer o que penso. Aliás, apenas recordo que estive 16 anos afastado da política activa e penso que tal afastamento, só por si, justifica um período de reflexão que me levou a assumir um posicionamento político que é o actual e não outro.
Percebo que, se o percurso tivesse sido outro, os que me fazem considerações menos próprias, típico de pessoas sem um mínimo de educação, estariam agora a fazer um discurso completamente inverso. Era-lhes conveniente. Dava-lhes jeito. Mas como não sou, há que deitar abaixo, ir tentando destruir paulatinamente a credibilidade dos outros, mesmo mentindo porque, segundo os inteligentes estrategas responsáveis por tudo isto, uma mentira dita mil vezes cedo será assumida colectivamente como sendo uma verdade. Mas como para mim as pessoas valem pelo que são e pelo que fazem, e não tanto pelo alinhamento partidário, é óbvio que entre o grupo em que estou inserido e o grupo onde estão os que me caluniam não haverá quaisquer dúvidas na opção feita por mim.
Nem preciso de me esforçar muito para tentar explicar, e muito menos provar, a bondade deste meu alinhamento. A realidade está aí, nua e crua, não sendo sequer necessário grandes comentários sobre o que se vem passando pelas bandas dos que pretendiam mudar para melhor este concelho de Lamego.
E começo por dizer, a propósito de uma recente manifestação havida em Lamego, que eu não partilho a argumentária esgrimida pelos seus protagonistas. É que eu não vou em manifestações de rua, quando ainda se não esgotaram todos os argumentos de uma boa e sã prática que é a das negociações.
Dá muito mais trabalho? Pois dá. É mais fácil berrar e dizer que o Governo é que tem a culpa? Pois é. Deste e dos governos que o antecederam, ou esquecemos já que esta é uma questão que já vem de governos anteriores?
Os actuais responsáveis, em vez de continuarem as boas práticas das negociações (tão importantes na boa e eficaz gestão contemporânea) preferem a facilidade das manifestações de rua, para depois se poderem desculpar com os outros. Não conseguem o que se pretende, mas sacodem a água do capote porque o odioso cairá em alguém, que não eles. Bravo!
E então se o odioso cair sobre os valores seguros, que não foram ouvidos nem achados sobre a tal manifestação que pretendia ser de “todos”, então será ouro sobre azul. Pois claro!
Pois é verdade… Eu não estive na manifestação. E não estarei em próximas manifestações do género. E escusam os propagandistas destas iniciativas, no jornal da coligação, de tecerem considerações jocosas e menos apropriadas sobre os valores seguros porque, comparados com eles, não duvidem que são mesmo mais valores e bem mais seguros.
Ou será que estes senhores pensam que todos nós somos cegos, surdos e mudos, e que em Lamego se pode fazer tudo o que lhes apetecer, apenas e tão-somente porque detêm actualmente o poder autárquico?
Vamos ver se conseguimos então dar um contributo mais democrático à forma de fazer política na nossa terra. É essa a minha intenção, com os artigos que passarei a escrever regularmente neste jornal.

P.S. – Percebo que o meu discurso na Sessão Solene do 25 de Abril não tenha sido bem aceite por alguns, que o consideraram despropositado. Entendo perfeitamente que falar em democracia, liberdade e igualdade (a tónica fundamental do meu discurso) tenha sido mal digerida por esses senhores, uma vez que já se começa a perceber que esses serão valores que não fazem parte do seu vocabulário quotidiano.
Mas em vez de se “atirarem” a mim com comentários de uma irrelevância confrangedora, porque não referiram a nada correcta ausência, nessa sessão, dos senhores Presidente e 1º Secretário da Mesa da Assembleia Municipal de Lamego? Talvez fosse um assunto mais interessante para a análise de quem pretende dignificar o órgão máximo do município lamecense.
Eu, por exemplo, penso que a sessão solene do 25 de Abril é a mais importante sessão simbólica de qualquer Assembleia Municipal, a exigir a presença dos seus mais altos dignitários.

Agostinho Ribeiro