Como todos
sabemos, o logótipo representativo do concelho de Lamego foi, até há bem pouco
tempo, o do nosso castelo.
E havia, em boa
verdade, razões verdadeiramente poderosas para assim continuar. O castelo de
Lamego é um símbolo expressivo de uma súmula de características que identificam
a nossa cidade e o nosso concelho, desde logo no que se refere à sua vetusta
idade e à sua insubstituível representatividade no plano histórico da fundação
da nacionalidade.
Podemos afirmar
que poucos elementos existirão, na cidade de Lamego, capazes de sintetizar o
seu valor e importância, no que de mais relevante esta cidade possuiu no
inestimável contributo que deu para a construção do território nacional, para a
fundação da nacionalidade portuguesa, bem como para a afirmação e triunfo do
cristianismo, em oposição ao Islão.
Ou seja, o
castelo de Lamego é o mais genuíno símbolo que possuímos para representar
Lamego nas suas mais diversas componentes constitutivas – histórica, politica,
administrativa, militar e religiosa – numa unidade que dificilmente se pode
encontrar em qualquer outro monumento da nossa cidade.
O castelo,
elemento central do nosso brasão, representa mil anos de história, e de
existência, desta cidade plena de pergaminhos. E se bem que a nossa história
possa ir muito para lá dessa marca temporal, não vislumbramos melhor símbolo
que este para mostrar a nossa rica diversidade de elementos e a nossa
incontornável identidade cultural que é apanágio de Lamego e dos lamecenses.
Dito isto,
quero dizer que nada me move, em termos de preconceito, contra as mudanças, e
muito menos contra esta mudança de logótipo. O Santuário de Nossa Senhora dos
Remédios é, de facto, um magnífico exemplar do barroco nacional, da segunda
metade do séc. XVIII, expressão maior da religiosidade das nossas gentes e,
seguramente, um dos monumentos que possuímos mais belos e mais representativos
da nossa cidade.
Mas isto, em
modesto entender, não faz do Santuário o melhor logótipo para o município
lamecense. Desde logo porque reduz a amplitude simbólica que se pretende com a
utilização de qualquer símbolo, ou seja, enaltece uma componente, a religiosa,
mas omite todas as restantes componentes que deveriam existir no símbolo, de forma
a caracterizar com justiça e propriedade a natureza diversa da nossa realidade.
Depois, porque
mesmo sendo um excelente exemplar do barroco, como já se disse, projecta Lamego
para um passado de pouco mais de duzentos anos, pouco condicente com a milenar
existência do burgo lamecense.
Finalmente, e
embora esta seja matéria de mera questão de gosto, relativa como todas as
questões de gosto o são, o seu desenho é redutor, uma vez que distorce e
avilta, precisamente, o que de mais bonito e brilhante o desenho do Santuário
possui – os seus pormenores decorativos, aqui tratados com rudes e grosseiros
traços, de fraca precisão no perfil esboçado, a tentar uma modernidade não
conseguida, que nem sequer estou certo de ser desejável para o caso em apreço.
Para não falar, evidentemente, da cor de fundo em que se plasma o desenho, que
para além de ser má, em termos de opção estética, remete para uma associação de
natureza politico partidária que deveria ser evitada num símbolo que deve ser
representativo de todos e não apenas de alguns.
Parece, pois,
existir uma fobia de mudança das coisas, apenas porque a ideia de mudança é,
por si só, um bem desejável. Ora isto não é verdade – as mudanças só fazem
sentido quando são, objectiva e criteriosamente, para melhor.
Esta história
da mudança do nosso logótipo pode parecer de somenos importância para alguns,
mas para muitos outros não o será – ela é bem ilustrativa do que pode fazer a
ignorância, quando se atreve a fazer as coisas sem consultar a sabedoria, que a
aconselharia certamente, a visitar a prudência…
Agostinho
Ribeiro