1 - Fazer de cada dia, um dia especial… no museu.
O que faz, de cada dia, um dia especial no museu? Esta é a pergunta para mil respostas, todas importantes e todas certamente adequadas, consoante a perceção do interlocutor envolvido. E como é humanamente impossível fazer tudo para que todos os dias sejam assim, especiais para cada um de nós, temos que saber gerir as expetativas que aos diversos grupos de pessoas se colocam, quando o dia deles é, também, o dia do (nosso) museu.
Por isso, quando se afirma que determinado evento não cabe na filosofia de ação do museu, convém cuidarmos atentamente do alcance e significado das palavras que usamos, porque estar fora da filosofia de atuação de uma instituição, seja ela qual for, pressupõe o conhecimento pleno e aprofundado que dela temos, desde logo no domínio concetual em torno das funções maiores para que a mesma está destinada. Esta obrigação de conhecimento é fundamental para que tais considerações não sejam, ou possam ser, interpretadas como resultado de um mero complexo preconceituoso em relação a determinadas práticas, ditas culturais por uns, mas que se não encaixam na mundividência (cultural) doutros, apenas porque são modeladas ao sabor do gosto pessoal... Mundividência certamente importante e meritória mas, ainda assim, parcelar e singular no todo que a individualidade transporta para o pensamento coletivo, uma vez que as modas são também, por definição, perenes.
Não nos devemos esquecer que o preconceito (intelectual e/ou filosófico), por muito refletido que seja, transporta em si mesmo o gérmen da intolerância perante a diversidade e a multiplicidade que faz a riqueza do ato cultural. Reduzindo esta postura ao campo que agora nos importa, o da museologia, podemos perguntar sobre o que nos permite garantir e atestar, mas sem fundamentar devidamente com critérios adequados e validados genericamente por uma parte substantiva da comunidade (museológica e não museológica), que uma determinada atividade se enquadra na filosofia de atuação deste ou daquele museu, mas aquela outra, mais fora das baias comuns à atuação corrente museológica, já não?
Do ponto de vista da perceção individual, o que nos faz concluir que o nosso (meu) entendimento, gosto ou tendência é, supostamente, mais válido que o do meu vizinho?
Se é certo que nunca poderemos ter a certeza da validade integral das nossas opções programáticas; e se é certo também que tais opções não podem contrariar os princípios fundamentais que dão razão de ser à existência dos museus; mais certo ainda é a constatação de que nos sobra uma margem de manobra muito grande onde o processo de integração comunitária na vida dos museus pode ser concretizado em profícuo benefício de todos.
Mesmo correndo o risco de parecermos pretensiosos, não escondemos a satisfação pelo trabalho realizado até agora, neste âmbito de grande abertura e cumplicidade com outros protagonistas da criação artística e cultural viseense, sejam eles públicos ou privados, institucionais ou associativos, coletivos ou individuais. Prestamos, portanto, um serviço à comunidade, através da sua integração na vida do museu, que nos parece ser a melhor forma de captarmos e fidelizarmos públicos, na diversidade em que tais “públicos” (precisamente no plural) se constituem e organizam em torno da visita e fruição do quanto temos sabido produzir e oferecer.
2 - Já somos, oficialmente, Museu Nacional Grão Vasco.
E é nessa precisa forma de correspondermos às mais legítimas e genuínas expetativas da comunidade com quem trabalhamos, que alcançamos o feito histórico, neste ano de 2015, de obtermos a designação “Nacional” para o nosso Museu Grão Vasco. A partir de agora, como Museu Nacional Grão Vasco, aumentam as responsabilidades de todos – nossas, porque devemos estar à altura desse magnífico estatuto de Museu Nacional; e de todos os viseenses, que muito poderão fazer para que tal estatuto represente uma indisfarçável e salutar vaidade das nossas gentes, pretendendo nós que signifique um aumento exponencial de visitantes e um crescimento da economia local, por via da divulgação e participação de todos na vida desta instituição de cultura viseense.
Para esta qualificação fundamental, em termos oficiais, não poderia ter havido melhor dia que o passado 18 de maio de 2015, precisamente o Dia Internacional dos Museus, altura em que foi publicado o Despacho nº 5123/2015 do Senhor Secretário de Estado da Cultura, em Diário da República, cerca de nove meses depois de termos requerido tal designação.
A todos os que trabalharam empenhadamente na concretização deste objetivo estratégico, em benefício de Viseu e do Património Cultural Nacional, deixamos aqui lavrado o nosso profundo e reconhecido agradecimento.
Agostinho Ribeiro
Diretor
* Museu Nacional Grão Vasco - A Palavra ao Diretor | 05